O que faz de alguém um herói? Quando um feito pode verdadeiramente ser considerado heróico, e não uma façanha semi-divina orientada por uma moral mesquinha? Em outras palavras, quais são os atributos que constroem um verdadeiro herói? Será uma preocupação enorme com leis, ética, moral e bons constumes... ou os limites seriam um pouco mais nebulosos?
Bem, de acordo com a definição mais clássica, aquela que remonta aos lendários heróis da mitologia grega, o herói seria uma rara fusão entre humano e divino. Assim sendo, mesmo sendo capazes de matar a lendária Hidra (Hércules) e girar em volta do globo para fazer o tempo retroceder (um dos feitos mais bisonhos do ótimo Super-Homem encarnado Christopher Reeve), eles ainda mantém as contradições, dilemas e até mesmo fraquezas tão características do espírito humano.
Mas alguns parecem se desvencilhar das características mais éticas dos heróis, tornando-se algo distinto do clássico sujeito perfeitamente correto com habilidades sobre-humanas. Eles não necessariamente são movidos por motivos nobres, tem uma moral própria ou abraçam com todas as forças o ideal maquiavélico que afirma que “os fins justificam os meios” — prerrogativa que permite utilizar métodos não muito ortodoxos para alcançar os objetivos.
Sim, nós estamos falando dos anti-heróis, uma tendência moderna de olhar tão fixamente para os detalhes que compõe um vilão em potencial (ou simplesmente um sujeito egoísta), que algo de correto acaba saltando à vista — como o Drácula psicologicamente enriquecido de Francis Ford Copolla (1992).
Embora seja difícil definir onde exatamente apareceu pela primeira vez essa ode aos heróis não muito virtuosos, trata-se de uma tendência que tem conquistado a humanidade desde os tempos do Dr. Fausto e o seu controverso pacto com o demônio por conhecimento científico.E nos videogames? Realmente não seria muito difícil lembrar de alguns bons exemplos — embora alguns acabem simplesmente se revelando mais espertinhos atrás de se dar bem na vida e menos sujeitos estranhos empenhados no bem comum, como Niko Bellic, de GTA IV (a bem da verdade, qualquer protagonista de GTA poderia entrar para esse grupo).
Mas muitos deles realmente parecem ter algo de bom abaixo da superfície, e eventualmente encontram a oportunidade perfeita para mostrar nobreza de caráter, mesmo que entre uma demonstração de bondade e outra possam emergir diversos palavrões e alguns infaustos malfeitores possam acabar tendo o pescoço torcido (ou coisa pior) — basicamente, o tipo de coisa que acontece quando alguém se mete no caminho de Richard “Rogue Warrior” Marcinko.
Anti-heróis nos videogames
Herdeiros de Fausto e Robin Hood na moderna indústria do entretenimento
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Enfim, moral própria, leis próprias e, sem dúvida, métodos próprios. Vamos a alguns bons exemplos dos ditos anti-heróis dos videogames.
- Ethan Thomas (Condemned: Criminal Origins e Condemened 2: Bloodshot )
O diferencial? Isso deve ser feito da forma mais violenta, nojenta e visualmente degradante possível. Isso certamente faria de Jack um vilão... não fosse a mais antiga lei da natureza: é matar ou morrer. Jack prefere a primeira opção, e o faz com bastante estilo. Enfim, um ótimo exemplo de anti-herói caricato — sem falar em uma ótima quebra de paradigma para o console familiar da Nintendo.
Ethan Thomas traz praticamente todas as características que definem um anti-herói. Ele é rude, anti-social, extremamente violento e quase sempre joga pelas próprias regras. Quer dizer, a humanidade pode ser beneficiada pelos seus atos no fim ? Talvez, mas ele realmente não se importa muito com isso. E, para tornar as coisas ainda mais politicamente incorretas, o protagonista tem um problema incorrigível com o álcool. Os demônios pessoais do ex-policial encontram o sue ponto alto em Condemned 2: Bloodshot, no qual a trama acaba mesmo por jogar Ethan diretamente na sarjeta, assombrado por todo tipo de coisa — sendo que boa parte do que acontece ele sequer entende, um pouco pelo próprio mistério da trama, outro tanto graças à mente parcialmente alcoolizada de Thomas.
Entretanto, o lúgubre boêmio é a única alternativa da Serial Crime Unit (SCU), que busca sua ajuda para desvendar a incontrolável onda de crimes que assola o metrô da cidade. Conforme as investigações vão se desenrolando, o detetive se vê em meio a uma intrincada rede de conspiração. Enfim, um clássico anti-herói jogado através de uma interessante, tensa e tênue linha separando a realidade consensual de uma paranormal.
- Max Payne (franquia Max Payne)
Mas Payne talvez não seja exatamente um anti-herói. A bem da verdade, trata-se mais de um herói decadente, do tipo que simplesmente decai graças aos infortúnios da vida.

Max é um policial. Um policial que é caçado por criminosos e também por outros policiais. Ele é o principal suspeito da morte do seu chefe e melhor amigo... que, lamentavelmente, seria o único capaz de livrar a sua cara. Aumentando ainda mais o dramalhão do anti-herói, Max ainda teve a sua família brutalmente assassinada. Enfim, a receita perfeita para que alguém se torne um genuíno herói-facínora, não?
- Wario (franquia Mario Bros.)
Wario já foi até mesmo um dos chefes finais encarados pelo ícone da Nintendo (Super Mario Land 2: 6 Golden Coins). Criado para ser uma espécie de oposto de Mario nos videogames (assim como Waluigi é o oposto de Luigi), Wario acabou posteriormente ganhando vários títulos solo, e hoje pode mesmo ser considerado como uma fórmula bastante particular de anti-herói.
Enfim, uma risada espalhafatosa, certa predileção por alho e um incorrigível problema gastrointestinal. Certamente um ótimo contra-ponto para a figura correta e familiar de Mario. Salvar a princesa no castelo? Que nada, melhor mesmo é juntar um monte de dinheiro!
- Jack (Madworld )
Jack é maluco. Jack é sanguinário. Jack tem uma moto serra no lugar do braço direito, e não parece ter nenhum receio de usá-la. Ele participa de um show de TV que certamente daria inveja a qualquer programa sensacionalista da atualidade: a idéia é matar em rede nacional o maior número de oponentes em um jogo no melhor estilo “O sobrevivente” (The Running Man).
O diferencial? Isso deve ser feito da forma mais violenta, nojenta e visualmente degradante possível. Isso certamente faria de Jack um vilão... não fosse a mais antiga lei da natureza: é matar ou morrer. Jack prefere a primeira opção, e o faz com bastante estilo. Enfim, um ótimo exemplo de anti-herói caricato — sem falar em uma ótima quebra de paradigma para o console familiar da Nintendo.
- Kratos (franquia God of War )
Poderia alguém ser mais violento, maléfico e beligerante que o próprio deus da guerra? Certamente, e ele se chama Kratos. Tudo bem, sempre será possível argumentar que o herói de God of War foi uma vítima dos joguetes de Ares. Mas isso não muda o fato de que Kratos mata (quase) tudo o que passa pela frente — incluindo o triste equívoco que faz com que ele acabe com a própria família.Completando a “moral alternativa” do novo deus da guerra, você ainda poderia incluir orgias, violência gratuita e uma afronta direta ao poder dos deuses. Um típico anti-herói jogando pelas próprias regras? Um dos melhores jogos já produzidos ? Sem sombra de dúvida.
É claro, essa lista poderia se estender quase até o infinito. Afinal de contas, dada a atual tendência do mercado de jogos, a maré está muito mais para o anti-herói do que para a sua contraparte, o clássico herói bonzinho que salva pessoas de incêndios e tira gatos de árvores.
Matéria retirada do site Baixaki Jogos, não editei ela muito, só corrige alguns erros e muito poucos.



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