Divino é o jogo. Divinas são as músicas. Divinos são os gráficos. Diabólico é o desafio.
Shanoa é uma personagem incrível. Inicialmente, uma verdadeira lutadora - quase uma Xena, mas com um mínimo de personalidade -, Shanoa, a primeira mulher a figurar como personagem principal da trama de um jogo Castlevania (cabendo a digna exceção de Charlotte, presente em Castlevania: Portrait of Ruin, também para Nintendo DS, observando-se, porém, que a pequena feiticeira é uma personagem importante, mas que fica escondida pelas sombras de Jonathan Morris, verdadeiro personagem principal), é parte de uma organização chamada Ordem de Ecclesia - daí o nome do game -, cujo escopo, acredita-se, seja o de impedir o retorno de Drácula à Terra. Também presentes estão outros dois personagens cruciais para o desenrolar da história: Albus, um membro da Ordem que, conforme podemos inferir no princípio do jogo, foi corrompido pelo desejo orgulhoso de ele mesmo conseguir derrotar Drácula; e Barlowe, mestre da Ordem de Ecclesia, sábio e guardião do recipiente onde se encontra a alma do Lorde das Trevas, recipiente este que deveria ser destruído pelas mãos diligentes de Shanoa. Mas isso nos leva a pensar: como uma linda guerreira poderia destruir aquilo que contém a alma do ser maléfico mais poderoso desde o meia-meia-meia, o tinhoso, o coisa-ruim? Com a ajuda de Dominus!
Dominus é uma arma sobrenatural, criada com o fim de destruir o recipiente que contém a alma de Drácula. Extremamente poderosa, essa arma parece atiçar a cobiça dos membros da Ordem de Ecclesia e aparentemente é a responsável pela total corrupção de Albus. Mas por quê? Simples. Albus havia sido apontado por Barlowe como o possível Portador de Dominus, mas, numa jogada nada esperada pelo membro da Ordem, o mestre de Ecclesia realizou os rituais necessários para o domínio de Dominus (sim, eu sei, ficou repetitivo... culpem ao jogo, não a mim) deixando Shanoa, a personagem principal, como aquela que deveria utilizar a arma. Segundo Barlowe, apenas ela conseguiria manipular Dominus sem ser consumida por seu poder.
Como era de se esperar de qualquer vilão em potencial, Albus aparenta ficar completamente enciumado. Sua inveja o torna amargo e louco, fazendo com que ele cometa o absurdo de atacar Shanoa e roubar Dominus de seu controle. Isso, a propósito, faz com que Shanoa perca suas emoções e lembranças. Segundo a narrativa, as mesmas teriam se fundido a Dominus e, quando a arma sobrenatural foi retirada da heroína, também o foram as reminiscências e sensações da mulher.
Com o ocorrido, o jogo dá um salto brilhante na narrativa e mostra que, por um longo período de tempo, Shanoa foi treinada novamente por Barlowe, a fim de que, mais uma vez, pudesse ser uma dominadora de Glyphs, armas sobrenaturais que utilizaria para recuperar Dominus. Por que chamei de salto brilhante? Bom, se Shanoa havia esquecido tudo, como ela seria uma guerreira ativa e experiente? Como eu disse: brilhante!
De qualquer modo, eis que, preparada para a aventura, Shanoa vai em busca de Albus. A partir desse momento, a narrativa começa a seguir uma ordem belíssima. A história é cativante e a personagem principal, mesmo não podendo sentir ou ter qualquer reação emotiva, acaba possuindo uma personalidade enigmática e, talvez por isso, atraente. Somos seduzidos pela história que, em momento algum, peca pela imprecisão. Mas isso não é um livro ou um filme, certo? Como, então, é o jogo?
Bom, em primeiro lugar, é lindo! Abandonando o esquema de personagens baseados em animes, a equipe da Konami criou figuras belíssimas e mais realistas dos indivíduos que aparecem na aventura. Todos possuem ilustrações maravilhosas que aparecem a cada chance de diálogo. As feições das personagens condizem com seu estado mental e casam perfeitamente com o que dizem. Nos momentos, por exemplo, em que Shanoa fala, seu semblante vazio pode ser quase sentido. Seus olhos inexpressivos revelam a angústia de alguém que não pode sentir. É perfeito!

Além disso, os cenários - extremamente bem elaborados e infinitamente variados, diga-se de passagem - são muito bem desenhados, valendo-se de todas as cores possíveis para criar uma atmosfera desenhada absolutamente atraente. Os monstros são bem detalhados e, ainda que alguns considerem o desafio repetitivo por existirem monstros que mudam apenas de cor, as reclamações são deixadas de lado quando as animações são colocadas em vida diante de nossos olhos. Mesmo as armas são perfeitas! Em resumo, os recursos gráficos do Nintendo DS são utilizados ao máximo, com fundos expressivos, personagens cativantes e monstros realmente bem produzidos. Esse jogo mostra porque os games em duas dimensões ainda têm lugar neste mundo tomado pelos gráficos tridimensionais.

O som é perfeito. A trilha sonora de todo Castlevania tem a tendência sincera de ser divina - agradecemos profundamente à Konami por isso -, mas a de Order of Ecclesia é especialmente deliciosa. Ativas, sombrias, lânguidas ou tristes; essas são as sensações que permeiam a verdadeira sinfonia que compõe o jogo. Cada cenário possui suas características musicais próprias, fazendo com que o jogo jamais se torne enfadonho no que diz respeito aos aspectos auditivos. Também os sons das criaturas que habitam essa terra sobrenatural onde se desenvolve a história são perfeitos. Oras, as vozes das personagens são maravilhosas! A voz de Shanoa, então, faz transparecer sua força e certeza de espírito. Em suma, não há reclamações no que diz respeito ao que ouvimos. Bom... exceto talvez pela voz irritante das crianças que aparecem no jogo... isso, a meu ver, é um ponto negativo. Entre todas as possibilidades de vozes no mundo, optaram por sons desagradáveis e nasalados. Realmente, isso foi chato.
Na verdade, não apenas as vozes das crianças são a parte chata do jogo. Ao longo do game, cabe ao jogador salvar os habitantes de uma pequena vila e, uma vez salvos, nós pensamos: "Bom, já que salvamos a vida desse infeliz, ele vai ser grato, certo?" Errado.
Os habitantes da vila de Wygol são o grupo mais mesquinho e interesseiro de todo o mundo! Tudo bem que, com o desenrolar da trama, nos é revelado que eles são mais importantes - bem mais importantes! - do que aparentam ser, mas era de se esperar que mostrassem um mínimo de gratidão, poxa! Mesmo a pequena costureira com sua fala mansa ou a velhinha obcecada com desenhos de lugares extremamente perigosos não passam de duas personagens que mandam Shanoa em buscas irritantes e demoradas. Tudo bem que não somos obrigados a fazer as tarefas que eles nos pedem para executar, mas nós nos sentimos assim. Acreditamos que é absolutamente necessário fazer isso por causa de um detalhe do jogo: ele nos irrita!
Não porque seja ruim ou algo do gênero! Ele é ótimo! Não me entendam mal. Mas ele nos ofende com sua dificuldade.
Por exemplo, itens nunca foram tão caros na história da franquia Castlevania e, além disso, acredito que nunca foram tão insatisfatórios assim. Uma poção que, até o advento de Order of Ecclesia, recuperava 100 de HP, custando míseras trezentas peças de ouro, agora, quando liberadas (sim, é necessário fazer algumas tarefas para um dos aldeões a fim de que possamos COMPRAR - não ganhar! - poções), custam quinhentas peças de ouro (!) para curar 50 de HP (!!!). Como não ficar irritado com isso?
Alguns monstros são tão incrivelmente fortes que matá-los não chega a ser um desafio, mas, sim, uma lição de vida. O "Cave Troll", por exemplo. Se aquela criatura chegar perto de você e decidir usar o seu ataque elétrico, você morre. Não, você não se fere bastante; você morre! Aquele monstro detona o seu HP quase todo e se você, por algum acaso, já tinha apanhado um pouquinho, sim, você morre. Logo, uma vez que Shanoa o derrota, o jogador aprende uma coisa: jamais - JAMAIS - toque num Cave Troll.
Os chefes, então, são tão difíceis que chegam a ser cômicos. Bom, tragicômicos. Todos possuem uma estratégia para serem destruídos, mas dois detalhes se revelam: nem sempre a estratégia é eficiente - e, a propósito, ela ainda continua sendo a única - e muitas das vezes descobrimos que, para identificarmos tal estratégia, morremos umas três ou quatro vezes. É frustrante ouvir Shanoa gritando, mas é algo com que acabamos por nos acostumar.

Outra coisa que nos enerva um pouco é a necessidade que temos de controlar não apenas os equipamentos, mas também os Glyphs que pretendemos utilizar, o consumo de MP, a freqüente perda de HP e o uso esporádico de corações. Muita coisa para ser administrada, mas, pelo menos, saímos do jogo bem mais organizados do que éramos quando começamos o game. Ah, apenas um detalhe: com o preço estarrecedor de todos os itens no jogo, tornamo-nos um pouco mais pão-duros e, com isso, passamos a administrar melhor nossas finanças. Traço irritante, sim, mas que funciona como um bom tutor em tempos de crise.
Em compensação, os controles continuam ótimos. A personagem responde muito bem aos comandos dos botões do Nintendo DS e, apesar de não fazer uso em momento algum da touchscreen do pequeno console (ponto negativo para a Konami), não sentimos muita falta dessa característica presente no primeiro Castlevania a ser lançado para DS.
No geral, Castlevania: Order of Ecclesia oferece um quantum absolutamente satisfatório de diversão. A história é sedutora, a personagem principal ainda mais e as reviravoltas na história - tão típicas da série - permanecem como traço marcante da franquia.
Definitivamente, esta é uma aquisição imprescindível para quem tem um Nintendo DS. Com um detalhe: conforme avisei antes, o jogo se torna um tipo de obrigação pessoal. Logo, quem não gosta de chegar ao fim de jogos ou fica irritado facilmente, afaste-se desse jogo! Aviso, desde já, que estará perdendo um dos melhores jogos para a plataforma portátil da Nintendo, mas, em compensação, não vai quebrar o seu console.
Análise geral: 9.0/10. ![]()

Analise tirada da Game Geral

0 comentários:
Postar um comentário